Quase dois meses após o fim das eleições, o acirramento
político que marcou a campanha ganhou novo fôlego. Em alguns estados, o palco
do retorno dos embates ideológicos foram as diplomações dos candidatos eleitos,
cerimônias institucionais organizadas pelos tribunais eleitorais, mas que este
ano ganharam um contorno político inédito: cartazes, livros, gritos de guerra,
vaias, xingamentos e até agressões físicas protagonizaram as cerimônias.
Cientistas políticos avaliam que, embora a polarização
ideológica vivenciada nas eleições não tivesse arrefecido totalmente, ela tinha
amenizado. O que serviu de ingrediente para elevar a temperatura foi a decisão
do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, de soltar
todos os presos com condenação após a segunda instância, o que atingiria o
ex-presidente Lula (PT).
O ato de Mello, durou apenas algumas horas até ser derrubado
pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli, mas foi o suficiente para marcar
as diplomações de estados como Minas Gerais e Ceará, para onde deputados
petistas eleitos levaram faixas e cartazes com os dizeres "Lula
livre".
Em Minas Gerais, onde o cerimonial do evento proibiu tais
manifestações, o deputado federal eleito Cabo Junio Amaral (PSL) tentou
arrancar um cartaz das mãos do outro deputado Rogério Correia (PT), gerando
agressões físicas. No Ceará, teve cartaz em favor de Lula e até livro: o
deputado federal Heitor Freire (PSL) escolheu o "A Verdade Sufocada",
do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-CODI durante a
ditadura militar.
EM MINAS GERAIS, cerimônia teve discussão e até agressões
"Esse foi um ano muito violento na política. Então,
quando praticamente no final do ano o ministro Marco Aurélio toma essa decisão
jurídica, ele acaba elevando a temperatura de um caldeirão que já estava
quente. A verdade é que o clima nunca arrefeceu totalmente, mas estava em um
nível suportável", avalia o cientista político Rodrigo Prando, professor
da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Prando acredita que o clima pode esquentar ou esfriar a
depender da postura do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). "Se ele
abrandar o discurso, tirar as roupas de candidato e portar-se como presidente,
talvez a gente possa voltar a um nível suportável de divergência política sem
que ela descambe para a violência", concluiu.
Já Adriano Gianturco, professor de ciência política do
Ibmec-MG, avalia que essa tensão política é "natural" e que,
inclusive, "já era prevista, imaginada". Ele admite, porém, que, se
comparadas aos anos anteriores, as diplomações refletiram a polarização atual.
"Na política, é normal que exista isso. O normal é que política seja
conflito, e não diálogo como alguns gostam de dizer", afirma.
Questionado se esse clima será levado aos trabalhos do
Congresso Nacional, ele afirma que é provável que sim. "Em parte, a
política é um palco. Esses papéis continuarão a ser encenados. O que mudou é
que agora há um novo embate, entre direita e esquerda", diz Gianturco.
FONTE: LETÍCIA ALVES
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